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As Designers

(Transcrito do Catálogo)

Bea Feitler

A trajetória tem como forte marca um pioneirismo que atravessa a própria construção do design editorial. Descrita por amigos como uma personalidade vibrante, sua força criativa e caráter inovador desafiou riscos levando leveza, audácia e um rigor peculiar que transformaram o design dentro e fora do Brasil. A formação, princípio e ápice da sua atuação, ocorre nas décadas de 1960, 1970 e 1980, quando inicia os estudos na Parsons School of Design em Nova York. De volta ao Brasil, atua em design editorial no Estudio G, especializado em pôsteres, capas de discos, entre outros projetos como a icônica e controversa revista Senhor. No início dos anos 1960 volta à Nova York e constrói uma sólida carreira nas maiores revistas de moda dos Estados Unidos. Nesse período, a convite de seu professor na Parsons, Marvin Israel, atua na lendária revista americana Harper’s Baazar, trabalho que construiu uma sólida e frutífera parceria com a artista Ruth Ansel.

A dupla inicia como assistente de direção e logo se tornam diretoras de arte, liderando uma das publicações de moda mais sofisticadas do mundo. Desde essa época, Bea já assinava no trabalho suas três forças: o tempo, o objeto, e o feminino, orientando projetos alinhados ao espírito de sua época [1]. Na revista Bazaar produz um discurso editorial de força feminina, abrindo espaços e parcerias de trabalho favoráveis para mulheres. Além de comunicar a força feminina, percebe que é um momento em que a alta costura e moda colidem nas ruas, o que a leva a recriar a revista usando cores vibrantes, ritmo cinematográfico, fotografias sequenciais com apelo artístico e mudanças de escala. aliando a tudo isso uma fusão de linguagens como cinema e Pop Art, sem perder a elegância clássica da tradição do fundador Alexei Brodovich. Desde então, passa a valorizar muito o trabalho e a criação dos fotógrafos, documentando a autoria das imagens na ficha técnica das publicações.

Seu espírito feminista e coletivista ganha a atenção de Glória Steinem, idealizadora da revista Ms. Um novo espaço onde Bea volta a dialogar com a linguagem pop e redefine graficamente a revista popularizando-se como força articuladora do movimento feminista. nos anos 1980 parte para projetos independentes, publicando livros de artistas e capas de discos de músicos famosos, até ser chamada para a direção de arte da revista Rolling Stone, onde concebe com a fotógrafa Annie Leibovitz, a famosa capa protagonizada por Yoko Ono e John Lennon, pouco antes da trágica morte do cantor. Seu último projeto foi reformular o editorial da revista Vanity Fair, o qual finaliza, mas não chega a ver publicado, pois vem a falecer de um raro câncer aos 44 anos. Bea Feitler em seu pioneirismo, além de pulverizar o espírito de sua época com projetos inovadores, inverteu o vetor masculino no design, afirmando a competência e singularidade da marca criativa de uma mulher em território norte-americano, semeando um discurso plural e inspirador para as futuras gerações.

[1] Trecho escrito em colaboração com a aluna pesquisadora, Maria Catarina Catarina de Alencar Ribeiro .


Emilie Chamie

Na trajetória de Emilie Chamie, o pioneirismo está para além da sua atuação como mulher no design. Ela faz parte da primeira safra de profissionais designers no Brasil formada pelo IAC – Instituto de Arte Contemporânea no Museu de Arte de São Paulo e um dos poucos alunos a permanecer e transformar a profissão. No IAC desenhou suas primeiras folhas sob a orientação de Lina Bo Bardi e, a partir daí, determinou sua opção pelas artes gráficas. As aulas com Pietro Maria Bardi, o convívio com artistas concretos e a influência de Piet Mondrian a guiaram para uma composição simplificada de linhas retas e colorido sintético, preferencialmente optando pelo preto, branco e vermelho. Fundamentos que permeiam sua criação gráfica de produções limpas, esteticamente elaboradas e de fácil assimilação. O rigor é a sua marca forte, seja no projeto como na construção gráfica, tendo como ponto de partida o desenho manual. Para Chamie, era preciso trabalhar antes no papel, ter tudo na cabeça, acrescentando que o design está cada vez mais caminhando para a automação, mas não vai eliminar o olhar do designer”[2]. Seus projetos, embora rigorosos na observação técnica, almejam o encanto, opondo-se ao racionalismo da profissão na época. Em todo seu corpo de projetos é possível observar um princípio fundamental: síntese-informativa, em que palavra e signo gráfico deveriam produzir significado ao conjunto, levando a uma comunicação visual rápida de fácil assimilação. Sendo esse, para Chamie, o grande objetivo do design: ser funcional e comunicar visualmente, além de gerar um projeto total que pensa uma estrutura do começo ao fim. A produção de Chamie é tão vasta como diversificada, tem atuação forte no contexto cultural, elaborando cartazes para o teatro, cinema e espaços culturais. Criou marcas históricas como a do TBC – Teatro brasileiro de Comédia e Centro Cultural São Paulo, assim como marcas empresariais, sempre respondendo à síntese de sua construção gráfica: simplicidade, rigor e estética. Fez o projeto gráfico-editorial de livros de artistas e o seu próprio livro, Rigor e Paixão: poética visual de uma artista gráfica que ganha publicação em 2000, reunindo valioso registro de sua obra. Foi agraciada com diversos prêmios importantes que a consagraram em diferentes áreas atestando seu estilo multidisciplinar, entre eles o de Melhor Artista Gráfica (1987) e Melhor Concepção de Livro (1982). Emilie Chamie foi essencialmente uma artista gráfica, dizia que “o artista gráfico é um criador”[3], pensamento refletido em sua obra, na qual sempre buscou o rigor sem perder a emoção, transpirando algo que ordenava e agregava sentido e beleza às formas.

[2] Revista Design Gráfico. Market Press, Ano 4, №.35, pág. 25.
[3] LEON, Ethel. Memórias do Design brasileiro. Sáo Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009, pág. 53.


Lina Bo Bardi

Lina (Achlina) Bo Bardi, italiana com formação em escola clássica de arquitetura em Roma, foi uma personalidade decisiva para as artes e a cultura, levando aos limites um projeto construtivista que deu forma a um Brasil modernista. Nos anos de 2ª Guerra na Itália integrou projetos de reconstrução do país em ruínas, mapeando zonas de guerra para encontrar traços reminiscentes da cultura. Filia-se ao partido comunista e trabalha em projetos gráficos em importantes publicações de Milão. Casa-se muito jovem com Pietro Maria Bardi, conceituado intelectual italiano promotor das artes. Em meados de 1940 o casal aporta no Rio de Janeiro vendo possibilidades no Brasil em construção. Em 1947, a convite de Assis Chatteubriand, Lina e Pietro iniciam a fundação do Museu de Arte de São Paulo – MASP, um projeto de museu moderno bastante abrangente e sistêmico. Para além de lugar de reserva cultural, constituiu-se como espaço de soluções espaciais, voltado para a formação cultural e aproximação das massas. Ali, pelas mãos de Lina e Pietro nascia o primeiro curso de design industrial do Brasil no IAC – Instituto de Arte Contemporânea e forma-se a primeira turma de profissionais que atuaram nas artes gráficas. O MASP foi o grande laboratório de Lina para pensar o espaço e a experiência humana dentro do museu. Diversos projetos funcionais são criados reinventando a experiência estética no museu, como seu famoso painel-cavalete aonde as obras de arte são posicionadas sobre os painéis de cristal espalhados no interior das salas expositivas, instigando o expectador a percorrer o espaço e visualizar ambas as faces do painel: na frente, o quadro e no verso, informações acerca da obra. Um projeto de grande contribuição para a museografia internacional, reconhece Lina [4]. O interesse de pensar o Brasil expande quando percorrer o  interior, mapeando a cultura de raiz. Nesse contato, Lina reflete que uma nova realidade industrial só aconteceria de forma equilibradas, se realizado um reexame da história do país. Alertava que era preciso se voltar aos corpos sociais extintos, produzindo um levantamento do artesanato brasileiro em sua diversidade regional. Um meio para construir o campo do design industrial com projetos mais aderentes a esse vasto país de seiva popular e assim, prevenir uma industrialização estranha  aos princípios culturais do país. Essa pesquisa e vivência da cultura brasileira levou Lina a criar um design para o mobiliário brasileiro que unia estética popular  e um forte apelo moderno. Na fase do Studio Palma, os projetos atendiam a demanda específica; a produção era manufatureira com materiais brasileiros e estética simplificada. São exemplos dessa produção a Cadeira Tripé, de estrutura tubular ou madeira, inspirada nas redes penduradas nos navios-gaiola do norte, para dar aderência perfeita à forma do corpo. A famosa cadeira Bowl faz a síntese do objeto moderno, se opõe às formas retas tradicionais introduzindo a forma circular, permitindo a postura mais relaxada e a interação entre humano e objeto como o centro da criação. A multiplicidade e singularidade em Lina Bo Bardi oferece ao design brasileiro uma atualização na busca de “ser moderno” sem se distanciar de sua cultura. Uma força histórica de Lina que faz ecoar seu pensamento para novas pesquisas contemporâneas.

[4] FERRAZ, Marcelo (Org.). Lina Bo Bardi. São Paulo: Empresa das Artes, 1993. Pág. 100


Lygia Pape

Foi, essencialmente, uma artista visual que levou o exercício artístico a um diálogo próximo entre arte e vida. Busca que se desenvolve desde a década de 1950 quando participou ativamente do Concretismo, vanguarda artística polarizada entre os grupos Frente (RJ) e Ruptura (SP), formados por artistas ligados às ideias construtivistas. Na fase concretista junto ao Grupo Frente, Lygia já se identificava fortemente com o processo de experimentação e, portanto, oposta aos princípios rígidos e normativos que orientavam o concretismo, limitadores da invenção e da liberdade subjetiva e o processo frente à construção formal da obra. Lygia Pape manteve-se fiel a esse caráter experimental, o que lhe permitiu trabalhar com diferentes linguagens e suporte, incorporando o expectador como agente ativo de sua obra, marcas definidoras de sua produção. Nessa veia experimenta, Lygia percorreu diversos caminhos, construindo uma linguagem múltipla na confluência entre artes visuais, cinema, dança e design para dar forma e sentido a projetos que colaborassem com o futuro do país. Nessa fase, Lygia realizou projetos de comunicação visual inovadores, até hoje reconhecidos como marcas indeléveis de seu tempo. No cinema, além de produzir e dirigir filmes fez a programação visual e cartazes para o cinema novo, até atuas em 1960 na comunicação visual da marca Piraquê com o projeto inovador que elaborou novos conceitos de embalagem dos produtos, logotipo e sinalização dos veículos. No projeto Piraquê, Lygia aposta na convergência entre design e elementos do Neoconcretismo, conferindo às embalagens novo formato que deixaram no passado as latas de metal e ganharam formato de sólidos geométricos. Formas que permeiam criações anteriores, como no Balé Neoconcreto I e II, onde o corpo dos bailarinos cobertos com sólidos geométricos coloridos são motores para deslocarem as formas no espaço. Os biscoitos ganharam na superfície das embalagens desenhos de cores vibrantes em contraste, com linhas e formas dinâmicas, produzindo um jogo visual para aguçar o desejo do consumidor ao manuseio do produto e a completar acompanhando seu desenho por todo o volume. Sendo esse, um princípio de Gestalt, norteador das visualidades construtivas. No trabalho artístico de Lygia o expectador é convidado a ser um agente ativo na obra, perspectiva que no design se volta ao consumidor, ao fazê-lo interagir com um produto que levava para casa com sabor de arte. Assim, Lygia Pape unifica traços de sua experiência artística a um projeto com objetivos específicos, unindo o técnico, estético e relacional, conectando produtos, pessoas e aproximando as fronteiras entre arte e design.


Paula Dib

Vive em São Paulo e trabalha Brasil a dentro e mundo a fora desenvolvendo projetos voltados para o design social. um campo de atuação onde Paula Dib encontrou um meio para pensar o design para além do técnico e comercial, focando em processos de transformações coletivas que incluem a valorização humana e ambiental. Essa escolha deriva do olhar sensível que Paula estabelece com o mundo, desde muito jovem sua trajetória pessoal é marcada por experiências humanistas que forjaram seu olhar sensível e seu papel de designer social. História que começa aos dezoito anos durante um intercâmbio na Austrália, quando trocou a bolsa de estudos por um trabalho voluntário numa aldeia aborígene. Nessa experiência refletiu sobre o consumo excessivo e o descarte de produtos industrializados entre os nativos e propôs um trabalho de transformação do lixo envolvendo a comunidade. De volta ao Brasil, matriculou-se no curso de Desenho Industrial da Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP. em seus estudos, tendo como parâmetro a experiência na Austrália, questionou como o design pode melhorar a vida das pessoas e diminuir o impacto ambiental na produção industrial. Desde então, participou e coordenou mais de 40 projetos sustentáveis pelo mundo em comunidades urbanas e rurais com foco na transformação das relações sociais, materiais e econômicas dessas coletividades, preservando suas tradições culturais. Na África, numa parceria com educadores de Moçambique, produziu brinquedos a partir de pedaços de bambu e palha de milhe. No Cariri, sertão do Ceará, com os sapateiros artesanais inovou a produção local, aproximando-a do mercado europeu. Em Londres realizou uma instalação no pátio de um colégio público, mobilizando estudantes e professores a refletirem seus conflitos e a diversidade cultural existente na escola. Em meio a essas realizações, o trabalho de Paula vem se destacando e ganhando visibilidade com premiações que atestam seu caráter coletivo e inventivo. Foi vencedora do Prêmio Internacional de Jovens Empresários de Design do Ano de 2006, do Top Market Award em 2007 e 2008, do Trip Transformers Award 2013, entre outros. Além da dimensão prática, o trabalho de Paula se preocupa com o registro das ações, e recentemente co-dirigiu um documentário sobre os mestres do couro no Cariri, Ceará. Nesta perspectiva ampliada, sua atuação é plural, pois lida com a produção material e imaterial, efetivada nas diversas experiências criativas das comunidades em que atua. Paula Dib é uma articuladora social, sua singularidade está na busca constante entre forma, conteúdo e partilha de saberes, na qual o design é um meio para propor dinâmicas criativas, valorizando pessoas e processos na transformação de suas realidades.


Fátima Finizola

A designer e pesquisadora Fátima Finizola vive e trabalha em Recife. Investiga há mais de uma década o universo da gráfica popular de Pernambuco e do Brasil e, a partir dele, desenvolve projetos gráficos e fontes tipográficas digitais. É Doutora e Mestre em Design pela UFPE e atualmente é professora adjunta do Curso de Design do Campus Acadêmico do Agreste, da mesma instituição. Também é sócia fundadora da Corisco Design e integrante do projeto colaborativo Crimes Tipográficos, onde desenvolveu inúmeros projetos ao lado do seu parceiro, Damião Santana. O trabalho de Fátima reúne o aspecto técnico da elaboração gráfica digital ao sensível da cultura material. Para chegar aos resultados das fontes tipográficas digitais, o seu processo criativo passa por um detalhado mapeamento da cultura popular em busca de elementos iconográficos e formas manuscritas inusitadas, encontradas em contextos peculiares, como nos muros pintados a mão nas periferias e centros urbanos, letreiramentos populares comerciais ou carrocerias de caminhão. a pesquisa desses elementos é um dado curioso no processo de Fátima, onde a experimentação recorre a percursos pela cidade, nos quais fotografa e coleta elementos da paisagem tipográfica urbana. Deste universo, surgem formas tipográficas ingênuas, bem-humoradas, de composição simplificada e cores luminosas. São grafias diversificadas, com estilos tipográficos peculiares e elaboradas por meio de técnicas manuais diversas, que se configuram como uma expressão artística estimulante, capaz de capturar o olhar do público a se oferecer como soluções informais de comunicação imediata. Ao recontextualizar ou remixar alguns destes elementos visuais para o universo digital, durante o processo de criação de peças gráficas ou fontes tipográficas, a designer vai além da simples tradução do registro fotográfico desta produção, mas também busca incorporar alguns dos processos aprendidos com os pintores de letras, tais como o uso de recortes, moldes vazados, pintura, entre outras técnicas manuais. entre seus projetos, destaca-se a fonte digital Dingbat Carroceria CT, criada a partir de um percurso por algumas cidades de Pernambuco para mapear a iconografia da tradição de decorar carrocerias de caminhões com cores e grafismos. este trabalho foi selecionado para a 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico, organizada pela ADG Brasil e para a Bienal Letras 2006, que reuniu os trabalhos mais significativos na produção tipográfica na América Latina. 1RIAL é outra fonte de raiz popular, desenvolvida a partir da observação dos letreiramentos elaborados por Seu Everaldo, comerciante popular do bairro da Soledade, do Recife. A fonte Zabumba – nas versões Folk e City – apresenta uma linguagem gráfica inspirada no universo das xilogravuras que estampam os folhetins de cordel e em elementos da paisagem arquitetônica e da cultura de Pernambuco, o que resultou em uma fonte iconográfica Dingbat, elaborada por meio da técnica de recortes manuais e digitais. Fátima também se destaca como autora de publicações relevantes para a pesquisa do design contemporâneo, entre elas Tipografia Vernacular Urbana: uma análise dos letreiramentos populares (2010) e Abridores de Letras de Pernambuco – um mapeamento da gráfica popular (2003). Seja atuando em pesquisa ou na área projetual, o que emerge como singularidade na sua produção é uma linguagem gráfica contemporânea, cuja força está na interação entre vernacular e digital e na preservação dos saberes e da memória cultural popular brasileira.


Joana Lira

A artista pernambucana Joana Lira, vive e trabalha na cidade de São Paulo desde 1999. Nascida em uma família de artistas e arquitetos, desde criança a arte e a criação moldaram suas experiências no mundo. Seu trabalho tem a marca da pluralidade, incorporando diferentes suportes que experimenta nas diversas atuações do design: do gráfico, de superfície, de produto ao editorial. Em seus projetos, o fio condutor da criação gráfica se ativa nas expressões da cultura brasileira, com ênfase nas tradições pernambucanas. Dessa rica iconografia cultural, personagens e imagens saltam dos folhetos de cordel, da literatura de Ariano Suassuna, dos seres fantásticos de Gilvan Samico, folguetos, ritmos e maracatus, ou simplesmente da rica paisagem arquitetônica histórica do Recife. Referências que expandem do local ao universal, encontrando inspiração em Matisse, Niki de Saint Phalle, Keith Haring, entre outros. Desse universo, Joana depura sua síntese gráfica em cores vibrantes, contrastes iluminados, onde figuras e formas gravitam e se destacam sobre o fundo colorido. São modos de agregar tradição cultural e arte ã criação gráfica sem esquecer a máxima do design: unir conteúdo, forma e estética a uma função específica. De acordo com o designer Kiko Farkas, “um traço forte da poética de Joana Lira é saber escolher a linguagem correta para a mídia em que atua”[5]. Em seu portfólio se destaca o projeto de identidade visual e cenografia do carnaval de Recife que realizou entre 2001 e 2011, fantasiando toda uma cidade com formas visuais que se misturam ao cenário carnavalesco e a vida cotidiana da cidade. Trabalho que se desdobrou no livro Outros Carnavais, onde registra os bastidores e o processo de criação e execução do projeto. O livro foi finalista do Prêmio Jaboti em 2009. Outro desdobramento desses trabalho aconteceu em 2018 com a exposição, Quando A Vida é uma Euforia, realizada no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo. Sua produção abrange outros projetos para livros e criações de linhas de produtos exclusivos para a rede Tok&Stok: Bico de Pena, Telúria, Pólen e Casario, inspiradas na natureza e fachadas coloniais de pequenas cidades. Em 2009, foi premiada pelo Pearl Awards em Nova York com a ilustração de capa da revista Audi da Editora Trip. Desde 2001 para a L’Occitane au Bresil, vêm produzindo a comunicação visual e embalagens da linha Vitória Régia, seguida pela linha Água de Côco, ganhando primeiro lugar no Prêmio ABRE 2015 (Associação Brasileira de Embalagem). Na sequência, recebe com a linha Olinda, em homenagem a mulher brasileira, importantes prêmios. Nessa trajetória, as criações de Joana Lira elaboram um design contemporâneo unindo tradição cultural e criação artística. No trânsito entre o local e o global ela insere, em seu tempo, uma produção estimulante, singular e consistente.

[5] LIRA, Joana. Outros Carnavais: nos bastidores da folia ou como o trabalho de cenografia surgiu, cresceu e apareceu na maior festa de rua do Recife. São Paulo: Editora DBA, 2009.


Bebel Abreu

Vive e trabalha em São Paulo desenvolvendo projetos em expografia, curadoria, edição de livros e produção de eventos. Nasceu em uma família muito ligada ã criação e, desde sua formação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Espírito Santo, se volta para o meio da produção cultural. Após estagiar em Munique, Alemanha, no Die Neue Sammlung – The Design Museum, instituição que abriga a maior coleção de design no mundo e no Museu de Arte do Espírito Santo, decide investir na sua carreira fora das instituições. Foi no exercício da produção de exposições que descobriu seu lugar na criação e a paixão pela forma de contar histórias no espaço expositivo. Nasce a parceria com sua irmã, a designer gráfica Manaira Abreu e juntas fundam a Mandacaru Design, empresa que desenvolve e produz exposições, workshops, conferências e eventos para centros culturais, empresas e artistas. entre as exposições produzidas destacam-se Ilustrando em Revista (2004-2009) onde, a convite de Alceu Nunes, organiza e monta uma exposição que reúne as maiores ilustrações já publicadas nas revistas da Editora abril, percorrendo oito cidades brasileiras; Pierre Mendell Cartazes (2007-2009), exposição que reuniu o acervo de 60 cartazes criados para importantes instituições culturais alemãs e projetos humanitários, apresentada na Caixa Cultural de São Paulo, outras capitais brasileiras e Museu Nacional de Arte Decorativa, em Buenos Aires; Macanudismo (2012-2015) apresentou um acervo de mais de 650 quadrinhos, desenhos e pinturas do ilustrador argentino Ricardo Liniers, percorreu quatro capitais brasileiras com programação gratuita de oficinas e palestras. nesse ínterim, Bebel volta para a academia (FAU/USP) para fazer mestrado concluindo em 2013 com a dissertação Expografia Brasileira Contemporânea: Rio São Francisco navegado por Ronaldo Fraga. Como uma forma de publicar trabalhos pessoais, cria em 2012 (o primeiro deles ABC NY) e a Bebel Books, editora que já tem ais de 50 itens. Ao perceber que diversos amigos ilustradores e fotógrafos não tinham livros próprios, Bebel passa a desenvolver projetos com eles (inclusive imãs de geladeira, pôsteres, postais) e entra para a rica cena de editoras independentes. Com a antologia Suruba para colorir, voltada para adultos, com prefácio de Xico Sá, edição e caligrafia de Bebel Abreu, desenhos lúdico-pornográficos criados por 35 artistas brasileiros, entre eles Laerte e Adão Iturrusgarai, e estrangeiros como max Kisman e Alejandro Magallanes, a editora “estoura”. Os dois volumes alcançaram sucesso no Brasil, Europa e Estados Unidos com tiragem de mais de 30 mil unidades. Desde 2016 a Mandacaru Design realiza em São Paulo e em parceria com a Holanda, a conferência internacional What Design Can Do – WDCDSP, com foco no impacto do design no mundo. Bebel Abreu, através de sua paixão por contar histórias, vem atuando de modo singular no design, criando narrativas que entrelaçam arte e produção gráfica. Nesses espaços da criação (exposições, livros e eventos), Bebel consolida um trabalho consciente com compromisso, ousadia e inventividade.


Cyla Costa

Vive e trabalha em Curitiba. tem como foco no Design o Lettering, mas sua atuação abrange também trabalhos em branding, ilustração e printing. Graduou-se em Design Gráfico pela Universidade Federal do Paraná, com espacialização em Ilustração Editorial pela EINA, Centre Universitari de Deseni i Arte de Barcelona e em tipografia, onde cursou Typeface Design na Cooper Union, em Nova York. Além de seu trabalho autoral, desenvolve produções coletivas junto ao grupo Criatipos, um laboratório de ideias que desenvolve com amigos do design, uma linha mais experimental e artística, com projetos em diversos formatos, além de workshops e palestras. Apesar a formação técnica e consistente em design, seu trabalho tem enorme teor experimental, resgatando processos handmade e pesquisas que exploram as artesanias, a arte e a cultura pop. Em seu processo de criação em lettering, é possível identificar uma grande variedade de ferramentas, técnicas e suportes, tenso como princípio, processos manuais com o uso do lápis, pincel e tinta. Seja o guache, aquarela, nanquim, giz ou linhas de costura, o traço surge do movimento livre do gesto, que ganha contornos sobre vários tipos de superfícies, desde pôsteres tipográficos, papéis de parede, até os muros da cidade. Sempre atenta ao que lhe inspira produzir, suas criações dialogam com as experiências de vida e universos referenciais: na música dialoga com Beatles e Bowie, no cinema com Kubrick e Sofia Coppola, na poesia com Leminski, Sallinger e no design a lista se estende, aproximando-se de Jessica Hische, Ken Barber, Gemma O’Brien, Martina Flor, Louise Fili, entre muitos outros. Em seu portfólio, se destaca o Projeto Weekly Woody, inspirado no cinema de Wood Allen. Cyla assistiu aos filmes em ordem cronológica, produzindo uma série de letterings em diferentes estilos, postando digital prints dessa produção. O projeto foi premiado pelo Type Directors Club com um certificado de excelência em tipografia. Sou Maria mas não vou com as outras é outro projeto da verve poética, desenvolvido para uma campanha de TV, veiculada no Telecine e canal Sony. Tratava-se de uma visão digital de uma artista visual que não mostrava sua cara e falava da “Maria” que existe dentro de cada menina. Junto ao Criatipos pintou um muro em homenagem aos 70 anos de um bairro nova-iorquino, pintando a palavra Perhappiness em um território que vive o constante entre arte de rua e decrepitude industrial. Cyla Costa é uma designer apaixonada pela letra e pela palavra – suas formas de semear arte e poesia. Seus projetos borram as fronteiras entre arte e design, vuscando na pluralidade dos formatos, elaborar ideia que unem o técnico e o poético como um meio de comunicar mensagens e tocar pessoas.

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